quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

As conotações da merda

Não é fácil falar sobre estrume. Digo, nós, homens, dedicamos as nossas preces ao excremento apenas nas horas mais vagas; naquelas horas em que a nossa versatilidade é tão determinante quanto o processo de decomposição resultante de todo composto fecal. Tudo depende da qualidade do solo.

Pela nossa própria índole, a dedicação que nos cabe não pode converter-se em mais do que duas possibilidades para a nossa própria evolução: a merda que conota júbilo e riso, e esta talvez seja a mais preciosa; e aquela merda carregada de um propósito tacitamente enraizado para além dos nossos redutos digestivos, de uma compreensão subjacente à intrincada condição humana. A merda masculina cala quando seu propósito já não é mais um propósito.

Existe uma outra conotação para o estrume, mas estes apenas as mulheres o sabem. Não trazem tantos valores perenes à evolução, porém, merda no fim das contas não é outra coisa senão merda, e este espaço servirá para este fim supremo: o da alquimia, o da transmutação desta matéria horrenda que não é matéria, e também não é horrenda, porque ainda não se fez adubo.

Sintam-se livres pra verbalizar qualquer espécie de excremento invariavelmente humano (os macacos nos invejam por nossa capacidade divina). O importante é que nada aqui será considerado outra coisa a não ser merda. Então, sem receios ou tensões.
Todos estamos na vala.

Abraços,

Saulo.

3 comentários:

íriaacosta disse...

deve ser por isso que eu até gosto da companhia de vocês... merda!


[ainda bem que eu sô macho: deus me livre ter por merda, simples merda. bah!]

Doko coc Wa? TSU disse...

Pensando bem, e bebendo bem,
penso em Cervaja, e portanto nova schin,
Será?? será??
Sim a Nova Schin tem todas as capacidades para ser nossa patrocinadora oficial...ou pelo menos se parece como um chefe que nos obriga a criar merdas...afinal quando cagamos, pelo menos quando eu estou cagando, fico sem muita ao meu alcance pra fazer....uma boa fonte pra pensar em coisas inusitadas e esmerdiadas...

Unknown disse...

de fato, nada como nos dispormos a cogitar as merdas cotidianas sobre o solene assento da privada...

Íria, vc está certa, é necessário esta pitada de macheza que torna a merda algo mais do que simples merda...
Para esse senso de macheza, a merda é sempre dita e, principalmente, denunciada. Infelizmente há alguns ditos machos que simplesmente não conseguem ser espontâneos na expressão de sua merda. E lembre-se: aqui, merda é tudo o que há, principalmente o que vc pensa ou sente.
Existe um motivo estranhíssimo, talvez oculto, que leva as mulheres, na maioria das vezes, a não serem condutoras desta habilidade que sem dúvida faz revelar as mais íntimas merdas, de modo a expeli-las e clareá-las àqueles que poderiam ouvi-las. A mulher tem uma necessidade de encobrimento, o homem, não.
Acho que essa habilidade do macho fez com que ele refinasse de tal modo o seu estrume que, além de esse material ser portador de sua mais pura sinceridade, contém o requinte e a sutileza do seu humor.

Não é que as mulheres sejam machos, é que elas sentem interiormente a necessidade de trazer para si a ausência que lhes não é natural. Esta ausência eu chamo habilidade espontânea, direta, humilde e honesta de expelir os recônditos fossais que fervem os seus corações. Para os homens, este fervor se faz mais fácil de explodir, e pra ele explode mais comumente em riso. Na mulher, explode mais facilmente em choro: eis o porquê da sua necessidade de encobrimento. É talvez o resultado do seu medo da dor que a explosão pode causar. É uma auto-tortura. O macho, paradoxalmente ao que a palavra macho pode significar, não é um masoquista. O viés do homem não é tão tortuoso, indireto.
Então, no que diz respeito à retidão, à imediaticidade do que se pensa e sente, o homem está tranquilíssimo: a merda - qualquer que seja - flui tão livremente quanto o fluxo de uma descarga(não quebrada). A mulher as vezes gosta de se dizer macho por essa necessidade psicológica que infelizmente é, na maioria dos casos, falha. Mas não que elas sejam machos, com exceção das lésbicas - obviamente. Eu nunca vi uma lésbica se dizer macho: ela já é. Não há a necessidade de dizer.
Os homens as vezes se dizem machos apenas por dois motivos: pra reafirmar sua condição, ou porque não estão muito confiantes dela.
As mulheres, no entanto, não podem afirmar o que elas não são. Mas esta característica mais ausente nelas e mais presente nos homens as fascina.
É possível que aquilo que nos fascina acaba se tornando a nossa identidade: a merda masculina "SOU" eu. Sou macho.

Esta merda é a tentativa, apenas a tentativa, da retidão, da direticidade masculina.

Um cara muito pobre uma vez se apaixonou pela filha de um bilionário. Depois de a pedir em namoro, ela chamou o cara pra conhecer seus pais na sua mansão. O maluco ficou extremamente impressionado com a pomposidade da mansão, com toda a riqueza do lugar. Apesar disso, ele conseguiu ficar relaxado: até que chegou a hora do jantar. Sentou tranquilamente na mesa, meio chapado já com o vinho, e soltou um peido daqueles! A mãe da moça estalou os olhos para o cachorro que estava sentado nos pés do cara: "Lulu", disse ela, num tom de ameaça. Assim o cara ficou mais aliviado porque a culpa foi dada ao cachorro e, dessa forma, ele peidou novamente. A mulher olhou de novo o cachorro mais pé da vida ainda e disse: "Lulu, pára com isso!" O pai da moça, enquanto isso, ficou só observando a cena e olhando fixamente para o namorado da filha. Então ele peidou de novo, ao que o pai da moça estourou e disse: "Lulu, saia dai antes que ele cague em você!!"

Como o ambiente é de vala, não se pode dar um exemplo mais peculiar.

Moral da história: não importa o grau ou a profundidade da merda, o homem nunca sente dificuldades em dizê-la.

aquele abraço!