quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

As conotações da merda

Não é fácil falar sobre estrume. Digo, nós, homens, dedicamos as nossas preces ao excremento apenas nas horas mais vagas; naquelas horas em que a nossa versatilidade é tão determinante quanto o processo de decomposição resultante de todo composto fecal. Tudo depende da qualidade do solo.

Pela nossa própria índole, a dedicação que nos cabe não pode converter-se em mais do que duas possibilidades para a nossa própria evolução: a merda que conota júbilo e riso, e esta talvez seja a mais preciosa; e aquela merda carregada de um propósito tacitamente enraizado para além dos nossos redutos digestivos, de uma compreensão subjacente à intrincada condição humana. A merda masculina cala quando seu propósito já não é mais um propósito.

Existe uma outra conotação para o estrume, mas estes apenas as mulheres o sabem. Não trazem tantos valores perenes à evolução, porém, merda no fim das contas não é outra coisa senão merda, e este espaço servirá para este fim supremo: o da alquimia, o da transmutação desta matéria horrenda que não é matéria, e também não é horrenda, porque ainda não se fez adubo.

Sintam-se livres pra verbalizar qualquer espécie de excremento invariavelmente humano (os macacos nos invejam por nossa capacidade divina). O importante é que nada aqui será considerado outra coisa a não ser merda. Então, sem receios ou tensões.
Todos estamos na vala.

Abraços,

Saulo.